sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Minha causa

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(em parceria com André Luiz)

Não se incomode
Em catalogar meu jeito
Ninguém é perfeito
E o que faço
Não é da conta de ninguém

Não se trata de levantar bandeiras
Gostar de alguém não devia ter fronteiras
Quem separou o amor do que estou sentindo?
Aqui não há mentiras
(Eu abraço minha própria causa)

Quem vai intervir
Quando o coração decide agir
Por suas próprias convicções?
Quem vai impedir
Se o desejo resolver fugir
E seguir por outras estações?

Minhas escolhas
Não seguem tendências
Experiências
Que não são da conta de ninguém

Letícia

(em parceria com André Luiz)

Já não é tão simples dizer o que sinto
Um labirinto, um instinto de predador
Basta sorrir que eu te sigo
E aceito seu jogo, seja qual for

Cores frias, espelhos trincados
Cadeados que oprimem toda opção

Se for pra ficar só nisso
Melhor deixar pra lá
Se for pra fugir do compromisso
Fique onde está

Seu medo, seu tempo ocupado
Aguardo calado por uma conclusão

Cores frias, espelhos trincados
A cada prazo uma nova interrogação

E se não for assim, posso acreditar
Que ainda há em mim
Algo que lembre você

Indícios

Ah, se você pudesse enxergar
Além das minhas dúvidas
Talvez pudesse escutar a razão
Que meu silêncio agride
Onde for mais seguro

Quero deixar bem claro
Que este medo do escuro
Não é mera precaução
É frágil, é puro, é punição

Passe a mão em meu rosto
E seque esta tormenta de discórdia
E Peço a Deus misericórdia
Por guardar em mim
O que não posso esconder

Procure manter os seus segredos
De modo que eles sejam secretos

Eu não te quero o mal
E é por isso que não quero você comigo
Meu castigo é cego e fiel
E a princípio
Não há indícios de lamentos ou qualquer sinal

Eu não te quero mal
E é por isso que não quero você comigo
Eu não te quero mal
E é por isso que não quero você

Procure buscar o que te falta
De modo que te faça completo
Procure erguer o seu abrigo
De modo que ele seja perpétuo
Procure ouvir as suas falhas
De modo que te ensine o correto
Mas procure manter os seus segredos
De modo que eles sejam secretos

Fatos Irreais

Ontem
Estado passado do instante
Agora e daqui por diante
Todo tempo é hora de mudar

Jorro
Dor, fúria e poesia
A morte é só cortesia
Que a vida nos força a enfrentar

Sentir
Com toda profundidade
De espírito, alma e câncer
De corpo, mente e cólera
O final dessa história
Igual a tantas outras
Baseada em fatos irreais
Nobre e vã sintonia
Que me afasta da epidemia
Que provoco e insisto em me curar
Me curar...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Suzane


Ontem te vi chorando
Quem te feriu não entende
O que passa na sua cabeça
O que passa na cabeça de Suzane

Ninguém trará sua vida de volta
Ninguém se importa com a motivação
O que deu errado
Se tudo foi premeditado?
Tudo combinado
Como deveria ser

Eu mataria por você, Suzane
Até assumo a culpa
Do seu plano imperfeito
Se é pra te ver sorrir...
Eu mataria por você

E é assim que tudo acontece
No final a gente esquece
E eles vão te visitar
Quando você dormir

Eu mataria por você, Suzane

A Rosa (Também Morre)

Você se acha a tal de saia curta
Você conquista o mundo com o seu olhar de puta
Pra você vale o que vier

Você encara qualquer cara que chega de cara
E deixa claro qual a sua pretensão
Pra você vale o que vier

Você se acha tão moderna e antenada
Seu jeito de andar e sua roupa descolada
Você não nega um jogo
Seja entre outros ou com as amigas
E vive sua vida
Como quem brinca no carnaval

Eu vou deixar uma rosa
No travesseiro quando terminar
Só pra te lembrar que a rosa
Também morre se ninguém cuidar

Você se julga uma companhia agradável
Um frasco tentador, um conteúdo descartável
Sempre tão disposta a cooperar
Sempre ansiosa pra deitar
Depois da rave chega em casa sozinha
E fecha as pernas só pra variar

Pra você vale o que vier

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sem perceber

Todo lado escuro
Toda imensidão
Não revelarão os passos
Que há entre nós
Façam outras grades
Outras acusações
Só não espere que eu aceite
Tudo o que disser

Suas respostas não me dizem nada
Santificada seja toda opressão
O último recurso:
O íntimo em aflição
Entrego as armas e me calo
Sem preceber

Da erupção de um grito
De um afeto inativo
Surgirão vestígios de ilusão
Sinto o céu caindo
Mesmo quando estou dormindo
posso ouvir a sua decisão
e mesmo sem preceber
Eu ainda estou contigo

O amor é uma doença
Em estado terminal
Uma ofensa imoral
mesmo sem perceber

E mesmo sem preceber
Sei que pode acontecer
Algo que compense tudo que passou

Versos Alterados

Respirando o pó
De um tempo entorpecente
Ninguém entende a aflição
Deste coração doente
Nenhuma dor pode ser igual
Nada pode ser igual
Pois nenhuma dor é igual
Nenhuma dor é a mesma que outro

Hoje estou tão só
E isso nem me surpreende
De repente ouço da escada
O som de outros passos
Nenhuma dor pode ser igual
Nada pode ser igual
Pois nenhuma dor é igual
Nenhuma dor pode ter a mesma
Condição

Respirando o pó
De horas imprecisas
Tão nociva é sua ausência
Que ocupa todo espaço

Hoje tenho a impressão
De que todos sabem mais de mim
Que eu mesmo um dia pude saber
Hoje sinto que não estão tão errados

Respirando o pó
Versos alterados

terça-feira, 20 de julho de 2010

Racionalidade


Se eu dou trela pro meu coração
Sabe-se lá onde vou chegar
Acelerando pela contra-mão
Talvez perdido sem saber voltar

Se eu tirar meus pés do chão
Posso perder a noção de tempo e lugar
Minha intuição me diz que é melhor então
Deixar tudo como rolar

Tente viver sem quebrar as regras
Sem intervalos pra contradição
Tente viver sua racionalidade
Sem se distrair

Se eu resolvo dar atenção
A tudo que considero especial
Posso me perder
E isso eu não posso

Se eu tirar meus pés do chão
Posso perder a noção de tempo e lugar
Minha intuição me diz com convicção
Melhor deixar como rolar

Destrutivo

Você jurava que eu estava lá
Mas pra mim foi indiferente
Cada coisa em seu lugar
Outras que nem deveriam estar

De repente
Algo acontece que nos surpreende
Sem ensaios
Abrem as cortinas a nossa frente

Quando tudo mais falha a gente improvisa
E deixe que a vida nos mostre a direção

Eu não sei dizer o que pode ser mais destrutivo
Desistir ou insistir é a questão

Também jurava que te vi chegar
Mas se afastava como sempre
Todo conselho que se possa dar
A quem se nega a escutar

De repente
Algo acontece que nos surpreende
Como um raio
Um rápido espectro incandescente

Quando tudo mais falha a gente improvisa
E deixe que a vida nos dê a solução

Eu não sei dizer o que pode ser mais destrutivo

Isso Não é um Jogo

Não estou aqui pra dar conselhos
Nem pra julgar o fim
Que justifica os meios
Eu só
Comigo mesmo e só

A verdade que me serve tão bem
Muitas vezes não tem nada a ver
Com mais ninguém
Eu só
Comigo mesmo e só

Isso não é competição
Pra dizer quem está certo
Quem é o dono da razão
Isso não é um jogo
Nem tão pouco uma simulação
Você nem passou perto

Não me julgue por tentar ver o lado bom

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tronos e Predadores

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É quase um crime te tocar
Quase uma execução
Guardo em mim um rastro do que resta
Em fragmentações
E mesmo que os exércitos
Tomem teus subúrbios
Encontro meu refúgio
Entre tronos e o predador

Entrego-me ao cárcere
Deixo-me guiar pela fraqueza
E a triste condição
De encontrá-la em outros corpos
Onde não sinto seu gosto
Somente tal sincera angústia
De desejar nossa distância
Quando desejá-la em mim
É mais forte que a renúncia

Seja a cadência
Sejam os séculos
Ou mesmo as dúvidas
Que te condenam a certeza
De almas céticas
Sejamos outros
Seremos sóbrios
Serenos e cândidos
Ainda que as nossas diferenças
Sejam idênticas

É tão estranho entender seu rumo
Tão áspero e cinza
Onde insiste em me guiar
Não há como acreditar em nós
Quando tronos e predadores são
Nossas fontes mais lúcidas

Sua república se ergue eminente
Em lamentações e rascunhos de poesias líricas
Sonhos cálidos, anjos e signos
Ambos somos falhos em nossas crenças lógicas

Ao Avesso


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Ninguém levou a sério
Quando aquele anjo provou que dava conta do recado
Quantas vezes ela mesma desacreditou
Era tão menina
Quando o namorado pulou fora deixando uma lembrança
Uma criança na barriga que ele desprezou

Hoje leva a filha em seu primeiro dia na escola
Ela sorri e chora
Sabendo que é apenas o início

Cheia de planos e incertas
Decidiu correr o risco

Virou seu mundo ao avesso
E ninguém tem nada a ver com isso

Ninguém acreditou quando pediu as contas
Partiu deixando um maço de cigarros
Quanto tempo ela perdeu e se iludiu
Casada há oito anos com um desconhecido
Se sentia só e abandonada
Fez as malas e o cabelo e se despediu

Jogou as fichas, subiu a aposta
Ela sorri e chora
Hora de reaver o prejuízo


Cheia de medo e esperança
Decidiu correr o risco
Virou seu mundo ao avesso
E ninguém tem nada a ver com isso

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Vésperas


Tudo está em paz de novo
Todo dia é a véspera
De um dia igual ao outro
Deixe que os soldados se retirem
Somente por hoje
Ao menos por ontem, então
Esqueça o que aconteceu
O que aconteceu se foi
Amanhã será tudo como antes
São promessas prósperas
São memórias póstumas
O que aconetceu se foi
O que aconteceu agora são lembranças
Uma trégua, um minuto de silêncio
Mil disparos por segundo
Há um mundo em conflito
Há um grito de revolta entre os dentes
Sentimentos sufocados entre máscaras
Sempre a reprise do mesmo erro
Todo dia é a véspera de um dia igual ao outro
Um feliz dia comum.

Último Sopro


Lembra aquele dia que eu te disse
Que não sei dizer adeus?
Acho que ainda posso dizer o mesmo
A vida é breve e qualquer sopro leve
Deve preocupar
Como se fosse o último
Justo quando me falavam de você
Eu cheguei em casa pra te ver fugir
Seu olhar tão distante
Sua alma oscilante
Que (decide) insiste em deslizar pela fresta
O peso do seu crpo pequeno
É mais do que suporta este meu mundo ingênuo
Vejo sua cor que se dissolve
Ao toque de uma lágrima
Que se desprendeu de mim
E mesmo sem aceitar, eu me despeço
E me apego ao pouco que ficou
Há algo de familiar em sua voz...
Agora que você se calou

Outros Riscos

Você se queixa tanto quanto qualquer um
Recusa a chance de outros riscos
Intérpretes de uma nova linguagem
Sem objetivos
Pra quê causar a própria dor
Se é a dor quem te faz melhor que antes?

É Quase sólida esta solidão
Quase posso tocar em seu rosto
Tanto faz que dia é hoje
Não faço qualquer questão
A ternura que o oprime esta noite
Deixa na boca o gosto de um beijo rascante

Quem te vê assim, calada e atenta entre tantas
Desconhece seus desejos, seus encantos e outros contos
Sua íntima flora e fauna
O animal cativo, a fêmea
O segredo derramado e fecundado em sua carne
Quem me dera ler seus pensamentos,
Quem me dera ter seus pensamentos,
Quem te vê assim sorrindo esquece que o sentimento
É um fluxo constante e em conflito
Quem me dera ser seus pensamentos

E se ela disser que não
Tudo bem, a vida sempre segue a diante
E se ela te ligar de novo
Deixe que diga tudo aquilo que a faz feliz

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Autorretrato

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Toda vez que o tempo fecha aqui dentro
Eu me concedo um momento pra respirar
Pode ser que o barco vire com o vento
Pode ser que ele me leve pra outro lugar

Não pretendo me colocar
Num papel secundário
Em planos que ficam para depois
Decidi me priorizar
E até que eu pense o contrário
Há de ser assim
Sem regras e sem promessas
Um ato irrevogável em mim
Até que eu mude de ideia

Eu escolhi as cores e o lugar exato
Pra redesenhar meu autorretrato
E em cada traço eu me reconheço
E sempre que desejo eu me refaço

terça-feira, 29 de junho de 2010

Anatomia de um Pensamento

Versos quase novos
Palavras repetidas
Onde me levarão?
Abraço em silêncio
A anatomia de um pensamento
Onde me levarão?

Às vezes, quase sem pensar
Me dou ao prazer de te imaginar comigo
E te encontro em minhas mãos

Delírios quase mortos
Imagens em um quarto escuro
Um filme de ficção

Às vezes, quase sem pensar
Me dou ao prazer de te imaginar comigo
Quase um sonho bom que me atinge
Como um disparo

Ainda há em mim um pouco de você
Que insiste em ser eterno
Um mal que ainda venero

O inferno que eu guardei dentro de um pensamento
O inferno que eu te dei como um presente raro

Princípio Ativo

Descompasso,
Descontrole, dissonância
Um aviso diz
Algo que não me diz nada
Uma intervenção,
Uma força percutiva
Que move minha vida
Você mexe
Com meu ritmo cardíaco

Um sorriso cínico,
Uma nova tatuagem
Que você deixou em mim
Sem minha permissão
Você não tem noção do estado que me deixa
Você não sabe o efeito dos beijos que você não dá

Minha tara é ter você em doses excessivas
Meu princípio ativo, minha cura é ter você

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Natimorto

Com o choro de minha cria
Acordo breve, sobressaltado
Estás comigo, quem diria
Apesar da mãe tê-lo negado

Em meu colo, filho querido
Te acolho com cuidado
Saiba que estás protegido
De qualquer mal imaginado

Não houve dor no parto
Nenhum gemido se deu
Esse dia sequer aconteceu

Estou sozinho no quarto
A criança que chora sou eu
Pois meu filho nunca nasceu

Soneto de Paz

Esse coração que outrora fechado
Dominado, invadido sem nem perceber
Batalha de sonhos a um ser desarmado
E a paz a teu lado por ti receber

Por um momento duelo, desejo alcançado
Venceu esta guerra cujo eu não perdi
E se em uma canção por você sou lembrado
Até no silêncio em penso em ti

O que sinto eis aqui dito
Por mãos que nada dizem
Mas se tocam e procuram

E a resposta do que escrevo
Estão em lábios que não falam
Mas se beijam e sussurram

Teimosia

O que escrevo é um manifesto
Sem causa ou motivação exata
É a insistência de uma ideia turva
Um desvio, uma curva
Uma teimosa satisfação ingrata
São versos que encontram em mim
Uma rota de fuga improvisada
Um caminho alternativo a seguir
Na falta de pessoa mais indicada
Nem tudo que escrevo se torna livre
Digno de leitura coletiva
Alguns versos ganham o esquecimento
Outros voltam ao ponto de partida
Nem tudo que escrevo é poema
Muitas vezes fujo do tema
O inverso de onde aponta a seta
Nem tudo que escrevo é poesia
Muitas vezes é pura teimosia
Assim como teimo em ser poeta

Persephone

Alguém por favor cale o que sinto
Meu coração quer se proclamar senhor de si mesmo
Todo afeto é rude
Todo amor é agressão
Seus lábios são incertos (insípidos)
Seu toque não teme a súplica (incerto)
Fecho os olhos e desperto então
A solidão se justifica por si só
Me explica o que faz tanta gente ao meu redor
Tanta farsa
Sua moralidade é fria e limitada
De onde vem sua força?
Sei que em seu jogo não existem normas
Faça o que quiser, só não faça comigo
Não me vire o rosto quando falo de você
Finge estar tão longe, mas eu não ligo
Existem outras formas de me manter por perto
Seus hábitos são lúcidos (ilícitos)
Desertos pela culpa
Fecho os olhos e desperto então

Todas as Coisas que não me Convencem

Estou com sérios problemas
Mas ninguém se importa com isso
Estou pensando em me jogar pela janela
Mas ninguém se importa com isso não
Preciso tanto de você quanto coisa alguma
Precisa de qualquer coisa
Não tente entender...
Apenas deixe que eu me envolva
No fim tudo acaba como as coisas devem ser
Apenas devolva
O início dessa história

Estou com sérios problemas
Mas quem se importa com isso?
Notícias falam em outras guerras
Mas quem se importa com isso?
Acho que é melhor assim como as coisas estão
Se não for
Deixe tudo como está

Coisas que imitam sonhos em formas físicas
Não me convencem
Coisas que somam outras dívidas
Não me convencem
Estou com sérios problemas
Mas eu nem me importo

Eu te amo
E isso nem é grande coisa

domingo, 20 de junho de 2010

Flores de Dial

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Ansiosa febre noturna
Fortes movimentos rápidos
Corpos que queimam em espasmos góticos

Ansiosa febre noturna
Vultos em seus olhos claros
Luzes que anunciam seu próximo ato

Cenários que sugerem outros planos
Portas que se fecham cedo...

Ansiosa flor da noite
Que abre suas pétalas a qualquer lance
Qualquer prazer ao alcance seja aceito

Cenários que sugerem outros planos
Portas que se fecham cedo
Um último desejo que concedo
À sua prece sórdida

Inválida freqüência mórbida
Insólita presença erótica

Flores que germinam ao som do dial
Flores ao som do dial

Flor de dial

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Imperfeita

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Repare bem
Veja como o dia está tão bonito
Ponha seu vestido favorito e vem
Nem de longe lembra a tarde fria
Que você se foi
Desejando boa noite

Eu releio nossa história
Como quem reescreve um livro
Só pra ver se eu me livro
Dessa história de dar um tempo
Não vem dizer que há
Motivos pra jogar
Tudo fora

Me receba, me aceita
Você é minha santa imperfeita e só você
Tem a receita
Pra separar o indivisível
Ou pra derrotar o monstro
De uma perda irreparável

Eu revejo nossa história
Como quem reinventa um filme

A Falta

Às vezes, tenho a impressão
Que não faço falta a ninguém
Sem mim, as coisas seguem seu rumo
E por que deveria ser diferente?
O Comércio não fechará as portas
O trânsito não será interditado
A novela não mudará de horário
Nem os tolos tomarão juízo
Alguns perguntarão por mim
Outros responderão sem ter certeza
Muitos nem saberão de quem estão falando
E as coisas seguirão seu rumo
A festa não será adiada
A canção não será interrompida
O navio não mudará sua rota
Nem o ouro perderá seu brilho
Sem mim, o mundo permanecerá igual
Seria fácil abrir mão de tudo
Mas não posso fugir de mim mesmo
Pois, se eu me perder
Tenho a impressão que sentirei
Muita saudade

Um dia Melhor

Hoje não quero estar triste
Quero estar livre
Livre de tudo
Que me deixa pra baixo
Contas atrasadas
Carro na oficina
Gente Rude
Quero fugir da rotina
Me desprender do óbvio
Correr riscos
Apostar em dobro
Racional por vocação
Louco por opção
Rir de tudo no final
Como se isso fosse solução
Mas quem conhece a verdade
Sabe que libertação
Nada tem a ver com felicidade
Só é livre de verdade
Quem se permite viver
Tudo que o coração decide sentir
O que hoje é tristeza
Dará espaço a novas experiências
Não se pode saber o que virá
Mas sou livre para acreditar
Que amanhã pode ser melhor

Ave de Rapina

Uma ideologia falsa
Uma droga para ludibriar
Um povo magoado
Uma razão para lutar

Antigamente
Dois pães alimentaram uma grande multidão
Hoje em dia
Tanta gente morre sem um pedaço de pão
Tanto frio, tanta AR-15
E nem um cobertor para me aquecer
"Deitado eternamente em berço esplêndido"
Pois o camburão não veio o corpo recolher

Autoridades se embreagam na beira da piscina
Nova moeda, nova favela, nova chacina
Psicose, psicologia, psicotrópico
Nada convém este fenômeno
Pairar sobre o risco da heroína
Afinal, ave de rapina
Ainda é meu pseudônimo

Só queremos condiçaõ de vida
Um prato de comida
Trabalho honesto e nada mais
Em épocas de paz, implorávamos por conquistas
Hoje, nada conquistamos
E imploramos pela paz

Carta ao Contentamento

Já não recordo do antes
Apenas espero o que vier depois
Já não respondo àquelas cartas
Elas nem sequer chegam mais
Agora percebo seu feitiço
Ainda sinto toda agitação
Ainda ensaio meu débil sorriso
Ainda me asseguro em minhas dúvidas
Sei no que está pensando:
“Será possível medir a dor?”
Nenhuma dor é igual
Nenhuma dor é a mesma que outra
Queria estar mais atento a doce melodia de Dolores
Mas me alento em silêncio nos segredos das Valkírias
Agora, acordo em vossa súplica
E acalento... Esbravejo...
E me entrego sem forças ao seu pensamento
Mas não questione meu contentamento
Pois se minhas lágrimas sacramentassem o batismo
Certamente esta página teria seu nome

Enquanto Espero

Quando criança
Temia cada palavra
Escondia meu rosto
Zelava o Cristo na parede
Aquele canto me aguarda
Calo meu canto
Sua presença quase santa
O crepúsculo de um olhar
Que padece à tua vontade
Tranque todas as portas
Mas permita que o vento
Entre pela janela
Agora conheço a maldade
E reconheço suas mãos
Enquanto espero outros dias...
Quando criança
Usei minha inocência
Como uma frágil pá
Tentando cavar a bondade
No fundo do coração dos homens
E não posso dizer
Que só encontrei tristezas
Nem que apenas achei alegrias
Pois todos eram homens
E todos tinham seu próprio coração

Esta Vazia Estação

Sinto uma leve brisa
Tão fria e cortante
Quanto sua negação
Mas não é o frio que incomoda
É todo calor oculto
Desta vazia estação
Cheia de saudades
De uma época reprovada
Isolado...
De que lado estamos afinal?
Talvez o lado contrário
O oposto desta tristeza
Se notar, até mesmo minha gentileza
É um mero ato involuntário
O que me atrai é esta incógnita
De distâncias mútuas que aproxima
Me ensina a dividir meus momentos
E toma meus sentimentos
Como tua verdade mais quista
Pois de minhas poucas experiências
As melhores são conseqüências
De um fútil prazer egoísta
Sou eu...
Eu, o inverno e o sol que nos esquece
Agora sei
Que não são os bons que morrem jovens
Na verdade
É a maldade que nos envelhesse

Desengano

Assim te imagino
Como um anjo, uma aparição
Uma fada que flutua suave
Sobre meu corpo
Um encantador delírio febril
Que invade minha lúcida rotina
E com cirúrgica precisão
Atinge meu coração com a ternura
De um sorriso amável,
Indescritível, indecifrável
E com a sutileza de um sonho bom
O toque anestésico de suas mãos
Me desvenda, me desvia
Me guia em sua direção
Doce e formosa anatomia
Pulsos que disparam
Em íntima sintonia
Corro meus dedos em seu cabelo
E te recebo em mim
Com lábios que declamam
Versos de carinho e apelo
Assim te imagino
Uma ciência, um feitiço
Uma intensa inspiração de vida
Quando tudo em mim
Parece morrer desenganado

Solidão

A sufocante imensidão me deprime
Por isso me tranco em mim
Meu abrigo seguro, meu campo minado
E fecho a porta ruidosa
Lá fora um deserto
Repleto de gente feliz
Aqui dentro, o medo
A bela flor de pétalas farpadas
A penetrante solidão me invade, me domina
Dedos que me exploram
Como serpentes atrevidas
A este reino vazio me entrego
Respiro profundo
E ensaio um sorriso que não convence
Ninguém deseja chegar onde estou
Por isso a porta não range

terça-feira, 15 de junho de 2010

Império

Não sou tão divertido quanto você pensa
Você quem se encanta facilmente por tudo que faço
Mesmo quando não há graça no que digo
Você estava sempre disposta a sorrir
E, desta maneira,
Me fez crer no quão especial sou
Mas não era nada disso
Não sou o amante perfeito que você fantasia
Eu apenas seguia seus movimentos
Como o dançarino amador atento aos passos da parceira
E num instintivo compasso rítmico
Me fez acreditar que era eu
O autor da música que nos conduzia
Mas não era nada disso
Não sou a fortaleza que você deseja
Era você quem se colocava frágil em meus braços
Meiga, manhosa... Implorando proteção
E, envolvida em meu abraço,
Eu tentava em vão te convencer
Que tudo estava bem
Que seus temores eram meras tolices
Mas não era nada disso
Tolo fui eu
Cego, surdo e displicente fui eu
Quando acreditei que sem você
O mundo me seria o bastante
Mas a verdade é que não me basto nem a mim mesmo
Pois o melhor que há em mim sempre esteve em você
E sem você
O mundo inteiro é um vasto império obsoleto

Memóri@

Não sei bem onde estou
Na verdade, eu até sei
Só não quero admitir que estou aqui
Aqui tão longe
Prefiro me perder em meus pensamentos
(Fértil território imaginário)
Onde janelas virtuais nos aproximam
Onde, finalmente juntos,
Posso te sentir, te ouvir,
Posso ser seu além dos limites
Destas meras palavras que te escrevo
Porém, o mundo real nos afasta
Nos desconecta
Então, me contento com o pouco que alcanço
O sorriso imortalizado em suas fotos
O olhar triste e sem cor
A flor que te acaricia
Guardo você na memória
Infinitamente distante:
Dentro de mim
Finjo ser feliz deste jeito
E, às vezes,
Até me convenço disto

Resquícios

Abracei um novo hábito
Eu coleciono vestígios de você
Cada gesto
Cada palavra
Cada detalhe seu
Devidamente catalogado
Sua dança, sua imagem
Seu sorriso acanhado
Seu olhar tímido, atrevido
Sua voz em meu ouvido
Seu desejo revelado
Momentos, movimentos
Múltiplos fragmentos
Um mosaico de sonhos
Que povoa meus pensamentos
E é destes resquícios
Que a faço minha como quero
Volto ao início
Me entrego verdadeiro
Me reconstruo mais sincero
E me completo por inteiro

( )

Estou aprendendo a me reconciliar comigo mesmo
Estou aprendendo a aceitar este meu eu errôneo
Este meu eu muitas vezes inaceitável
Inaceitável, porém meu
...porém eu

Admito não conhecer os outros tanto quanto imagino
Imagino conhecer os outros por uma questão de segurança
Me sinto melhor assim...
Mas sentir-se bem é sempre um grande risco
E isso definitivamente não me surpreende

Estou aprendendo a me reconciliar comigo mesmo
A aceitar este meu lado humano
A entender que este lado humano sou eu
Este meu eu errôneo e inaceitável
Que amparo com a precisa imperfeição que me é peculiar

O que há em mim que lhe agrada?
Em meus defeitos ofereço a semelhança que lhe conforta
E na consciência de minha culpa é que assumo:
O que há de melhor em mim está guardado no meu eu que recuso
...porém meu.

Tempestivo (favor, rebobinar após o uso)

(?) Vivo você sem
Estranho parece...

Ter você é uma espécie de anestesia cronológica
O tempo se torna uma mera especulação do encanto
Sua presença em mim é um compromisso infinitivo
Somos dois ponteiros que se cruzam esporadicamente
Dentro de uma mesma órbita matemática
Com você... as horas ganham um novo ritmo

Sem você, tudo parece lento
Tudo inspira uma constante ânsia sem hora marcada
Sem você o tempo rasteja... paralisa.
Estaciona,
Estaciona,
Estaciona...
Às vezes, parece que sinto o tempo retroagir:
Estaciona,
Estaciona,
Estaciona...
Paralisa... rasteja tempo o você sem.
Marcada hora sem ânsia constante uma inspira tudo
Lento parece tudo, você sem

Ritmo novo um ganham horas as... você com
Matemática órbita mesma uma de dentro
Esporadicamente cruzam se que ponteiros dois somos
Infinitivo compromisso um é mim em presença sua
Encanto do especulação mera uma torna se tempo o
Cronológica anestesia de espécie uma é você ter

Parece estranho...
Sem você vivo (?)

Dizer Quase Sempre

Sempre procuro dizer tudo que sinto
Mas não todas as coisas...
O que sinto procuro como se fosse tudo
Sinto que busco coisas que digo sempre
Digo das coisas que busco o que sinto
Procuro as coisas que sinto como se fossem únicas
Todas as coisas que digo, sempre procuro
Mas não tudo o que sinto...
Um único sentido das coisas não diz o que quero
Quero dizer das coisas que busco
Como todas as coisas que sinto:
Que são minhas...
Que são únicas...
Que são indescritíveis...
Todas essas coisas são ditas quase sempre
Quase sempre que quero, eu as busco
Mas nem tudo o que procuro...
Certas vezes, simplesmente não encontro
O que quero...
O que sinto...
O que busco...
Tudo parece uma única coisa incerta
Então não sei o que dizer
Como certas vezes acontece quando quero
Sentir todas as coisas que procuro
Em meio a um único sentido das coisas que digo
Então eu sigo e me busco nas coisas que tenho
E revelo a mim mesmo o que quase sempre esqueço:

O que sinto... Sou.

A Seu Gosto

Eu queria preparar tudo pra nós dois
Queria que encontrasse tudo pronto em casa
Queria trocar a roupa de cama,
Varrer as folhas do quintal,
Dar banho nos cachorros,
Tirar o pó dos móveis,
Lavar a louça,
Deixar tudo a seu gosto
Mostrar como tudo funciona melhor
Quando há você por perto
Queria te encontrar no ponto de ônibus
Te buscar de carro para subirmos a Rua
Tudo seria perfeito:
Cheiro, gosto, som, luz, toque...
E quando fosses embora
Passaria os dias planejando tudo
Para que tudo fosse ainda melhor
Quando voltasse pra mim
Mas não te vi voltar...
E o pó e as folhas tomaram conta de tudo
Os cachorros se queixam do meu descaso
E nada mais funciona como antes...
Nem mesmo eu
Você não faz idéia do trabalho que dá não tê-la por perto.

À Insônia

Minha inquieta alma que se recorda
De incessantes imagens que me lampeja
Grita ao meu cansado corpo: “acorda!
Levanta e busca o amor que tanto almeja!”

Minha carne desperta (limitada matéria)
Não possui os dons que a alma domina
Vê-se presa às paredes de sólida miséria
Constante pernoite de uma soturna rotina

Se me deito, recuso o sono que revigora
E me flagelo com o pesar de mais um dia
Na espera de outro dia completamente igual

Perpétuo conflito noturno que me devora
Certo do fim que me aguarda e não tardia
E me condena em sua liberdade condicional